quarta-feira, dezembro 09, 2015

Há muito em minha mente
E pouco em minha garganta
Ou - quem sabe - há tanto em minha garganta que o força a descer-me pelo estômago

Incha minhas entranhas que não suportam mais engolir tanto

O pai da aflição geme

Suplica pelo vômito incessante
que esvazie o meu ser

Cada vez mais grávida
de um filho que não sabe como nascer

domingo, novembro 29, 2015

do you have a lighter?

you were high and i was in love
when we discussed at the bar - why did i still stick with you?
you hold my hand and i was hoping i was strong enough to refuse it
i was not

otherwise
i was weak and i held you
and i gave you that sad smile - which i often give you
and asked you "tell me something you've never done"
you said "lots of things"

we had some fun at the fine arts building
we got into my car
i drove you somewhere you had never been
high
higher

do you have a lighter?

you kissed the planets on my back

"mercury is such a small planet. though it's so important"
"let me kiss the earth"
yes. it needs lots of kisses
it's sick

i wish that kisses could stop the universe
"we're a classic couple" you said
"no.. we've got so many more nuances" (to be honest, are we a couple at all?)

we were naked at my car
and gosh
you looked amazing under that traffic lights

i'll never forget how pretty you are

"will you tell your future guys about me?"
"of course i will.. we drove naked through the city"

"you must understand this is all new to me"

"you've got a bird's heart. let me feel it"

i thought it would take longer to me to go away
but i'm leaving

each day by
it seems like i'm leaving

"i'll never forget you"
in fact, i'm never gonna let you forget me
it is not on my plans to leave you - even though i'm leaving

you left my last cigarette on my car
wish i could share it with you
smoked it alone

(ps: i hope you and i always remember that day anytime we ask someone for a lighter)

quinta-feira, outubro 29, 2015

carta ao barman

eu não sei se o tempo chegou realmente a parar
se ele passou rápido demais
ou se eu tenho uma péssima memória

talvez eu tenha uma péssima memória
por causa dos seus olhos
que não me deixam prestar atenção
em nada a não ser no abismo que me encara

uma jaqueta anos 90
um beijo acidental
cócegas

nada

um beijo sobre o balcão do bar
e o meu barman preferido
um abraço

nada

te olho de perto
tão longe
tão longe


da eternidade necessária pra me conhecer
eu te daria todas
as noites

terça-feira, junho 30, 2015

Se eu não tivesse ido àquela praça III

Uma noite fria de outono
Bêbados pela tarde cinza
Rubros pela expectativa

No quarto uma luz amarelada
Te fazia incrivelmente mais bonito aos meus olhos

Não que não o fosse
Mas aquela luz de preguiça
Me encantou em você

(Embriagados
Nos sorrimos
Nus, sorrimos)

Não tínhamos tempo
Mas ele fez questão de parar
Pra nós

Se eu não tivesse ido àquela praça II

Foi no outono
Numa tarde de domingo cinza
Àquela mesa daquele bar do centro

Nos sorrimos

Se eu não tivesse ido àquela praça I

Era uma manhã de um domingo de outono
Fui à praça, não me era de costume
Foleei um livro e observei os cachorros

Beirava duas horas
Eu só queria uma cerveja

Ah, se eu nao tivesse te convidado
Pr'aquela
Cerveja


quarta-feira, maio 06, 2015

Porque eu não quis conhecer a sua geladeira

Cada cômodo de uma casa carrega um pouco de intimidade.
O banheiro e o quarto talvez sejam os mais íntimos. Depois vem a cozinha
com a sua geladeira.

Da segunda vez que te visitei, você me apresentou sua cama.
Da terceira, você quis me apresentar sua geladeira.
Eu não quis conhecer a sua geladeira.

Eu não quis conhecer sua geladeira porque
eu me recusei a conhecer uma intimidade da qual eu estava
prestes a sair

Eu não quis conhecer sua geladeira porque
eu sabia que seria a primeira e a última vez que a veria.

Eu quis conhecer a sua cama
porque eu queria voltar lá
mas acabei não voltando

Me lembro muito bem da sua cama
Já da sua geladeira
eu só tenho aquela memória
de quando passei pela entrada da sua cozinha

Azul II

Engaiolado
preso
soterrado por cigarros
e bebida
e mulheres

essa angústia de nunca
conseguir ser nada
que já não tenha
sido
              sido

Azul

Comecei a fazer um poema
mas percebi que alguém
já o tinha escrito

estava prestes a escrever
algo sobre essa dor
que mora dentro de mim
que é única
mas que culmina na mesma
tristeza
que outrora fora traduzida
em um
pássaro
Me exausta sentir
Não durmo há dias
Não como há semanas

Há vida em tudo o que vejo
A vida em tudo o que vejo
Apodrece

Sobram-se apenas o sentir latente
que me mata.
Não há mais vida no que vejo

se é que vejo

tenho para mim que
apenas
sinto
Sinto tanto
Que rasga a minha carne
perfura meus ossos
esmaga meus órgãos
espreme meu coração como se
para esvaziar ali de tudo o que
sinto

Sinto tanto que meu
cerne transborda
me inunda
me sufoca
e transborda
Quando e se me esvazio de sentir
a maré cresce
mais do que comporto
grita latente
insistente
doente

me dói tanto
o que se
sente