Ela estava na janela, enquanto observava a chuva que aos poucos começava a cair, lavando as folhas secas que o outono trouxera. A cidade nunca havia parecido tão silenciosa, e ela nunca se sentira tão sozinha.
Enfadada daquela atividade, ela saltou da sacada e foi ao seu segundo lugar preferido naquela casa: a cozinha. Ana procurava um Donut, enquanto ouvia Félix miando ao longe; deveria estar com fome, também. A menina já ia levando o alimento ao seu pequeno companheiro, quando vislumbrou-se no espelho do corredor. Não estava nada atraente. Seu rosto ainda estava amarrotado, pela noite mal dormida. Trovões sempre a assustaram; a luminosidade fraca, não favorecia seus cabelos castanhos, que ganhavam um tom opaco, como aqueles que não se lava há tempos. Olhou-se novamente, e riu. Gostava da forma como as luzes do móbile da janela brincavam, dançando em seu rosto, no ritmo do vento.
Félix miou outra vez. Estava realmente com fome. Ana então, findou o que fazia, cessando qualquer indício de pensamento que ousava se iniciar. Concentrou-se em Félix. A chuva já se cansava de cair, e produzia um som quase inaudível, ao bater na rua de asfalto daquela cidade enorme e silenciosa.
A menina, então, alimentou devidamente o seu amigo, afagando-lhe a face; recebeu uma ronronada como resposta. Preguiçosamente, tomou o pequeno angorá, preto e branco, nos braços, voltando à primeira posição do dia: estava deitada, fitando, incansávelmente, o teto do quarto, que servia de cenário para aqueles antigos pensamentos, que insistiam em renascer.
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